E apanhava-o frequentemente em pequenas vaidades como aquela. Mas isso apenas aumentava sua afeição pelo amigo. Como ele é bonito, pensava Ashley: sentado ali entre os dois, com a luz a dourar-lhe o cabelo claro. Como um efebo. Forte, mas de algum modo vulnerável. Necessitado de proteção. Tinha de ser defendido a todo custo de brutamontes como Gibbs, pensou selvagemente. Como podia Edward tolerar um boçal daqueles, pensou, olhando-o – que pare-cia desprender constantemente um cheiro de cerveja e de cavalo (tudo isso escutando o que o outro dizia) –, era coisa que lhe escapava.
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"Morris levantou os olhos do livro que procurava ler. A pena de Eleanor arranhando o papel exasperava-o. Ela parava, escrevia, inclinava a cabeça. Todos os aborrecimentos da casa recaíam sobre ela, isso era certo. E, todavia, ela o exasperava assim mesmo. Estava sempre a fazer perguntas. E jamais escutava as respostas. Fixou os olhos no livro outra vez. Mas de que servia o esforço de ler?"
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A atmosfera de emoção reprimida agastava-o. Não havia nada que qualquer um deles pudesse fazer, mas todos continuavam ali, naquela atitude geral de emoção reprimida. A costura de Milly o irritava como o irritava ver Delia recostada na sua cadeira sem fazer nada, como de hábito. E ali estava ele, trancafiado com aquelas mulheres numa atmosfera de emoção irreal. Enquanto Eleanor escrevia e escrevia e escrevia. Não havia nada que valesse a pena mencionar, naturalmente.
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Estugou o passo e foi andando, até que chegou às casas baratas que seu pai desprezava tanto que sempre dava uma volta para evitá-las. Mas como era numa delas que vivia a Srta. Craddock, Kitty nimbava essas casas de romance. Seu coração bateu com força quando virou a esquina da capela nova e avistou os degraus da casa em que a Srta. Craddock morava. Lucy subia e descia aqueles degraus todo dia. Aquela era a janela do seu quarto. Aquela a sua campainha. O cordão da sineta saiu de repelão quando ela o puxou; mas não voltou mais, porque tudo estava aos pedaços...
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