Quando sou injustamente criticado (de meu ponto de vista, pelo menos), ou quando alguém que tenho certeza de que é capaz de me compreender não o faz, corro mais do que o usual. Ao correr mais, é como se eu pudesse exaurir fisicamente essa parcela de meu descontentamento.
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Em determinadas áreas, busquei ativamente a solidão. Sobretudo para alguém em minha linha de trabalho, a solidão é, mais ou menos, uma circunstância inevitável. Às vezes, porém, esse senso de isolamento, como ácido espirrando de uma garrafa, pode inconscientemente corroer o coração da pessoa e dissolvê-lo. Podemos ver isso, ainda, como uma faca de dois gumes. Isso me protege, mas ao mesmo tempo me dilacera por dentro. Acho que a meu próprio modo tenho consciência desse perigo — provavelmente, por intermédio da experiência —, e é por isso que tão constantemente mantenho meu corpo em movimento, em alguns casos forçando-me até o limite, a fim de curar a solidão interior que sinto e colocá-la em perspectiva. Não é tanto um ato intencional, mas, antes, uma reação instintiva.
Do que eu falo quando eu falo de corrida.
Haruki Murakami
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